The Day I Became a Woman, 2000
Marzieh Meshkini
Irã

Por que a escolha?
Porque através de três histórias diferentes unidas por uma paisagem comum, O dia em que me tornei mulher oferece um olhar agudo sobre a vida das mulheres, sobre as exigências, pressões e limitações que a tradição e a cultura lhes impõem. Três personagens em momentos diferentes da vida têm que lutar para encontrar a própria identidade em um contexto que dificulta e impede o crescimento.
A primeira história é a de Hava, uma menina que vai fazer nove anos. Segundo a tradição, essa idade marca um momento de transição crucial na vida de uma mulher. Hava não poderá mais brincar com seus amigos homens e terá que começar a usar xador. Sua resistência é palpável e ela quer usar a última hora que lhe resta para ser uma menina, passar o tempo com seu melhor amigo e comer balas. Essa é a profunda impotência da infância. Desde cedo as crianças precisam desenvolver estratégias de negociação para conseguir o que querem. As constantes limitações e pressões da idade adulta se impõem, mas as crianças resistem e encontram saídas rápidas para se conectarem e compartilharem o desejo de liberdade.
A segunda é a de Ahoo, uma jovem adulta que decide participar de uma competição de ciclismo sem a permissão do marido. Ela é perseguida por vários homens a cavalo: o marido, os irmãos dela e vários anciãos da tribo, que tentam detê-la ameaçando com o divórcio, reprovando sua atitude, obrigando-a a decidir entre pertencer ao clã ou rebelar-se e sofrer as consequências do isolamento e da rejeição. Seus irmãos finalmente a encurralam e a obrigam a voltar. O poder coercitivo da tradição prevalece e consegue quebrá-la.
A última é a história de Hoora, uma senhora idosa que ficou viúva e herdou muito dinheiro. Acompanhada por muitas crianças que a ajudam, ela se aventura a comprar todos os bens materiais que lhe foram negados ao longo da vida. Ela coloca tudo o que comprou na praia, como se fosse uma peça de teatro, e embora não saiba bem o que fazer com tudo aquilo, sente-se liberada para poder ter o que deseja sem limitações.
O dia em que me tornei mulher fala da opressão sistêmica, mas também da resistência. É um tríptico repleto de alegorias, símbolos e poesia visual. Em muitos momentos, o filme deixa de lado o diálogo para explorar as cores, os recursos naturais, os espaços e os personagens sob uma perspectiva poética e com pitadas de realismo mágico. O objetivo é explorar o sentimento que invade a maioria das mulheres que cresceram nessas condições, o desejo de fugir dessas vidas cheias de insatisfação impostas por uma sociedade feita por e para homens.
Ficha técnica