Por que a escolha?

As palavras mais lúcidas pronunciadas em Foi Apenas um Sonho são ditas por um “doente mental”. Em um subúrbio de Nova York, o filho de uma vizinha, que acabava de sair de um hospício, - onde, fiel à época, tinha recebido eletrochoques -, em poucas frases cheias de ironia desmascara a farsa de um casamento e dá uma lição ao casal.

Baseado no romance Revolutionary Road de Richard Yates, Foi Apenas um Sonho é a história de April e Frank, um casal glamoroso que segue plenamente o esquema da classe média da segunda metade da década de 1950. Mas o crescente bem-estar econômico do casal vem acompanhado por uma alienação incipiente. Ele sai todas as manhãs para fazer um trabalho medíocre e insatisfatório, e ela o espera em casa. De repente, essa vida tediosa começa a desmoronar e os dois procuram combater o tédio com planos ilusórios que logo se revelam improváveis.

Nesta adaptação excelente e eficaz do romance de Yates, Sam Mendes leva ao cinema uma história sobre a falta de sentido da existência humana e o poder devastador da desilusão, do desprezo e do desamor. O “vazio sem esperanças” que era a vida dos protagonistas termina em tragédia. Uma tragédia que seria evitável se não fosse uma década timorata e perigosa em que as vozes mais lúcidas eram silenciadas com eletricidade e na qual as mulheres só podiam procriar e esperar.