Por que a escolha?

Cindy Sherman (1954) usa seu corpo e recria com sua própria imagem estereótipos que representam as ideias de mulher construídas pelo patriarcado e sistematicamente reproduzidas pela mídia, publicidade e arte. Pornografia, erotismo, sexualidade e os protótipos de papéis femininos são alguns dos temas a partir dos quais Sherman desenvolve caracterizações femininas. A ironia, a caricatura e a apropriação de personagens que ela recria em cenas com fantasias, próteses e maquiagem marcam um selo autoral fundamental na obra desta que é uma das mais importantes artistas e fotógrafas da arte contemporânea.

A série Retratos Históricos, composta de 35 fotografias que satirizam as obras dos grandes mestres da arte europeia do século 15 ao início do século 19, integra os elementos que caracterizam seu estilo. Assim, por meio da paródia, Sherman representa os personagens das obras Sem título 205, que faz alusão a La Fornarina de Rafael, ou Sem título 216, que se refere à Madona com criança e anjos de Jean Fouquet. Representações femininas em um papel materno com barriga de grávida falsa, seios falsos e bebê falso, com o qual não só dessacraliza a arte das chamadas obras-primas, como também aponta os preconceitos e estereótipos que ela reproduz. Sherman distorce os retratos e deserotiza as mulheres e, ao fazê-lo, desmonta a perspectiva masculina e questiona as convenções arbitrárias que a história da arte, da cultura e da sociedade teceram em torno da imagem do corpo feminino e de sua identidade.