Safe, 1995
Todd Haynes
Estados Unidos

Por que a escolha?
San Fernando Valley, Califórnia, 1987. Nesse contexto, marcado pela disseminação da Aids e pela discussão sobre a contaminação ambiental, Todd Haynes faz Mal do Século e abre as portas para a vida de Carol White, uma rica dona de casa e seus estranhos sintomas físicos.
Inspirado em Jeanne Dielman de Chantal Akerman, O Deserto Vermelho de Michelangelo Antonioni e 2001 Uma Odisseia no Espaço de Stanley Kubrick, Haynes constrói um ecossistema árido e frio onde coloca uma personagem que parece não ter identidade e que se mimetiza com o mobiliário. Sua vida e seus relacionamentos são estéreis e superficiais, embora tenha todas as necessidades materiais cobertas. Por meio de planos amplos e música sinistra, o diretor isola Carol, abala a rigidez de seu modo de vida. Não sabemos quem ela é nem o que ela pensa realmente. Ela vive nas margens da própria vida e nas margens do quadro. Seu isolamento é palpável nas relações que mantém com as pessoas que a cercam: o marido e as amigas parecem totalmente desconectados de sua realidade emocional e se irritam quando os sintomas aparecem.
Durante as duas horas do filme observamos como Carol vai progressivamente piorando. Ela acredita que seus problemas se devem a produtos químicos, pesticidas e gases no ambiente que assolam a realidade pós-industrial em que vive. Suas ações cotidianas tornam-se sombrias e misteriosas. Tudo pode ser ameaçador para ela. A obsessão e o medo crescem tão rapidamente quanto a quantidade de suplementos, pílulas e tinturas que ela ingere diariamente. Carol encontra refúgio em um grupo de apoio de pessoas que têm reações parecidas e acaba buscando asilo em um centro de reabilitação no deserto dirigido por um homem carismático que tem Aids. Devido à doença, pela primeira vez a vemos configurar um esboço de identidade que funciona como um elemento que a coloca em crise e, ao mesmo tempo, a constrói e afirma.
Mal do Século cria uma atmosfera de terror. Em sua profunda crítica à sociedade moderna, satiriza a vida nos subúrbios americanos e a cultura dos circuitos da new age de autoajuda e positividade tóxica. O filme aborda claramente temas como imunidade, ecologia e inconsciente. Questiona a causa das doenças e lança luz sobre o discurso que culpabiliza quem está doente. Quase trinta anos depois de ter sido escrito, este filme é fundamental para compreender o presente que vislumbrou.
Ficha técnica