Araya, 1958
Margot Benacerraf
Venezuela

Por que a escolha?
A aridez inclemente da península de Araya, na Venezuela, oferece uma diversidade avassaladora de texturas, um deleite para os olhos que a câmera de Pierre Seghers, único colaborador da diretora venezuelana Margot Benacerraf neste filme, capta com maestria. Nestas paisagens magnéticas recortam-se as silhuetas de homens e mulheres carregando cestos na cabeça o dia todo. Eles carregam peixe e sal, sal e peixe. Durante um dia inteiro, a narrativa poética de Araya acompanha os membros de algumas dessas famílias, mostrando a dureza da exploração do trabalho e certos padrões de gênero arraigados na distribuição de tarefas.
Adolfo, César, Toñico, Beltrán, Damaso, Demecio, Benito e muitos outros homens, na pesca e na salina, assim como os seus pais e todos os seus antepassados desde a conquista espanhola. O trabalho sofrido na salina, que começa à noite, continua sob os raios do sol e ulcera impiedosamente pés e mãos. Petra, Carmen, Isabel, Angélica, Daria, Luisa, amamentam os filhos, lavam a roupa, vendem o peixe excedente e fazem objetos de cerâmica. As imagens não deixam dúvidas e o narrador acrescenta: “O coração da mulher do pescador não sabe o que é o cansaço. Seus braços não sabem o que é o cansaço."
Depois de ter estudado de 1949 a 1951 no Instituto de Altos Estudos Cinematográficos de Paris, a pioneira Margot Benacerraf voltou ao seu país, a Venezuela, e iniciou a sua carreira cinematográfica com a curta-metragem Reverón, um retrato do mundo misterioso do conhecido pintor venezuelano Armando Reverón, obtendo algum reconhecimento. Mas foi com Araya que Benacerraf alcançou notoriedade internacional ao dividir o Prêmio da Crítica no Festival de Cannes com Hiroshima, mon amour, de Alain Resnais. Sua contribuição para a narrativa documental e sua abordagem corajosa fazem dela uma cineasta icônica que desafiou limites e abriu caminho para muitas outras mulheres cineastas na América Latina.
Ficha técnica