Cuchillo de palo, 2010
Renate Costa
Paraguai

Por que a escolha?
Na década de 1980, Rodolfo, tio da diretora, foi perseguido e incluído em uma das infames listas de homossexuais feitas pela ditadura de Alfredo Stroessner no Paraguai, conhecidas como 108. Ele foi sequestrado e torturado e depois obrigado a levar sua vida sexual em completa clandestinidade. Anos depois, quando Renate ainda era muito jovem, Rodolfo foi achado morto em circunstâncias estranhas sem que ninguém quisesse investigar. Ele morreu de tristeza, disse a família.
Renate começa a investigação sobre a morte de Rodolfo com sua família, mas depois entende que a violência que obrigou o tio a viver escondido, mesmo em democracia, é a prova de que elementos da ditadura sobreviveram, pois embora o regime tivesse caído havia anos, sua sensibilidade ficou indelevelmente instalada no psiquismo de amplos setores da sociedade, incluindo a própria família da diretora.
O grande mérito deste filme está na ousadia com que Renate expõe a homofobia do pai e o confronta sem condescendência. É um gesto extremamente corajoso e ela consegue encontrar o difícil equilíbrio de um olhar justo quando o que está em jogo são os afetos.
O cinema latino-americano dos últimos anos sofreu uma de suas maiores perdas com a morte precoce de Renate Costa em 2020, que com este único longa-metragem deixou uma marca profunda. A mistura de questionamento emocional e exercício da memória familiar e política sobre a continuidade da violência da ditadura contra as comunidades excluídas tornaram Cuchillo de palo uma referência obrigatória no cinema documental contemporâneo.
Ficha técnica