Dayereh, 2000
Jafar Panahi
Irã

Por que a escolha?
Uma jovem acaba de dar à luz uma menina. Incrédula e preocupada, pergunta às enfermeiras o sexo do bebê. Ela está de costas, mas a decepção é visível. Sua maior preocupação é o iminente pedido de divórcio que a família do marido fará, pois nascer mulher é sinônimo de tragédia.
Três mulheres que acabaram de sair da prisão tentam conseguir algum dinheiro. Uma vende uma corrente de ouro e é presa, outra tenta defender sua honra quando um homem grita com ela na rua. Outras vagam sem saber o que fazer. Elas querem fugir para o Paraíso, para uma terra prometida onde serão livres. Mas uma mulher não pode viajar desacompanhada. Outra, que está grávida e quer interromper a gravidez, procura a ajuda de uma amiga enfermeira em um hospital. A amiga lhe diz que nenhum médico concordará em fazer um aborto. Outra, em uma rua movimentada, quer dar a filha em adoção. Ela implora que uma família rica a receba. Ela já tentou entregá-la três vezes no desejo de que a pequena tenha uma vida melhor. Uma jovem entra no carro de um estranho que, ao vê-la sozinha, decide levá-la a um lugar onde as autoridades prendem as trabalhadoras do sexo. As mulheres estão estritamente proibidas de viajar desacompanhadas ou sem autorização da polícia, do pai ou do marido.
Todas essas histórias fragmentadas, mas essencialmente iguais, compõem a história coral que Jafar Panahi chama de O Círculo. O título remete à circularidade da trama, em que todas as mulheres convergem para um mesmo espaço. Refere-se também à circularidade da vida das mulheres em um sistema opressor que as obriga a fugir para serem novamente capturadas e assim entrar e sair da prisão em uma recorrência desesperada. E, no único aspecto esperançoso da história, o círculo também se refere à circularidade da solidariedade feminina, à rede de contenção e cuidado que prevalece mesmo nas circunstâncias mais adversas.
Ficha técnica