Por que a escolha?

O vídeo começa com uma mulher entrando em um quarto e abrindo as portas de um armário. Uma vez aberto, a mulher –que é a artista– trepa pelas prateleiras e pendura o suéter, que ela ainda está usando, em um cabide. De dentro,dependurada, ela fecha as portas.

Pioneira do videoarte, Letícia Parente (1930-1991) já havia refletido sobre as limitações impostas às mulheres no contexto da ditadura militar brasileira (1964-1985) e sobre os pressupostos e preconceitos que os veículos de comunicação de massa reproduziam sobre o feminino.

Como em quase todas as suas obras, Letícia utiliza o (seu) corpo como ponto de partida e como eixo para abordar determinados problemas.

Em In ela parece incomodada, limitada, por momentos impossibilitada de fazer o que realmente quer fazer: o corpo não aparece na obra como potência, mas como obstáculo.

Nesta prática artística, Letícia reflete sobre a relação inquestionávele naturalizada entre o doméstico e o feminino; na atribuição dos papéis das mulheres e na forma em que certas tarefas recaim exclusivamente sobre elas. Letícia Parente se apropria do espaço que a sociedade lhe reservou e o transforma em uma metáfora da opressão. A intervenção acaba com ela se fechando no armário em um atitude de recuo, em uma ação de retirada, como se quisesse se livrar do seu fardo. Entretanto, nesse mesmo ato, ela abre uma porta para pensar novas perspectivas e desafiar o controle sobre os corpos e as vidas das mulheres.