Las Cantatrices, 1980
Carlos Leppe
Chile

Por que a escolha?
A obra de Carlos Leppe (1952-2015) questiona e transgride as normas sociais e institucionais dominantes no Chile de Augusto Pinochet (governo de 1974 a 1990). Usando o próprio corpo como suporte, Leppe cria uma obra capaz de quebrar o status quo. "Entre as décadas de 1970 e 1980, o espaço exterior dilacerava e encurralava", pensava. Por essa razão, ele se sentiu compelido a fazer com que “o corpo chegasse quase ao incontrolável, ao delírio de romper toda ordem; meu corpo trabalhou do simulacro, da crise da identidade sexuada, do gesto, do rictus e até o texto primário, do travestismo até a biografia com seus remendos”, afirmou em 1998.
Considerado um pioneiro da arte corporal no Chile e da performance na América Latina, Leppe fez videoarte, fotografia e instalação para criar uma obra extensa e diversa na qual se imbricam de forma explícita e eficaz o protesto político e as demandas identitárias, especialmente as relacionadas a gênero e sexualidade. El perchero, por exemplo, é uma instalação composta por três fotografias dobradas ao meio e penduradas em ganchos em um cabideiro, como se fossem roupas. Duas dessas fotografias retratam o corpo de Leppe: em uma, o artista está vestido com uma roupa feminina e com perfurações ao redor dos seios; na outra, o artista está nu, com o sexo e o peito cobertos com fitas e remendos. Essa obra está relacionada às práticas de violência física exercidas pelo regime ditatorial. A série Las Cantatrices, por outro lado, retrata a mesma vulnerabilidade de corpos constrangidos e violados, desta vez em quatro vídeos. Nos três primeiros, Leppe personifica uma cantora de ópera com o corpo imobilizado por um gesso. No quarto, Catalina Arroyo, mãe de Leppe, lê um texto sobre seu relacionamento com o filho. Esses vídeos, dirigidos pela escritora e curadora de artes francesa Nelly Richard, foram televisionados em 1980, em plena ditadura, e expressam de forma comovente e categórica o alcance da repressão e da tortura.
Ficha técnica