The Kiss of the Spider Woman, 1985
Héctor Babenco
Brasil / Estados Unidos

Por que a escolha?
Um preso político e um homossexual acusado de corrupção de menores convivem em uma prisão que os liga e os transforma. Luis Molina deposita seu desejo de identidade nas mulheres de Hollywood e Valentín Arregui sacrifica tudo por sua causa política. O corpo de Arregui está cheio de feridas, muitas delas ainda recentes, devido às torturas a que foi submetido. Molina também sofre, embora seu sofrimento não seja totalmente visível. Ele leva na pele a dor de não poder viver plenamente sua sexualidade.
Para amenizar dores físicas e emocionais, Molina recorre à distração contando histórias de filmes que o comoveram. Embora resista, Arregui acaba ansiando por essas narrativas que atuam como um bálsamo. Além de ser um entretenimento e um método de evasão de suas realidades adversas, essa história dentro da história revela o futuro dos personagens. É como se esse filme dentro do filme funcionasse como um espelho. Os contextos sociopolíticos do nazismo e das ditaduras militares do Brasil, onde o filme se passa, e da Argentina, onde acontece a história do romance homônimo de Manuel Puig no qual o filme é baseado, parecem dialogar fluidamente. Aos poucos, os limites da amizade entre eles se diluem, se cruzam e se imbricam mutuamente. Eles já não são os mesmos, essa experiência os transmutou.
Em O Beijo da Mulher Aranha as feridas da repressão política e as da repressão moral coexistem, se entrelaçam e cicatrizam. O espaço de extrema proximidade e reclusão, não só liberta os seus protagonistas, como também evidencia o caráter decididamente público do privado.
Ficha técnica