Por que a escolha?

Esperanza e seu marido Ramón moram em uma cidade devastada pela mineração; antes se chamava San Marcos, agora se reduz a Villa Zinc. Eles levam uma vida precária, nada lhes pertence e as condições de trabalho na mina são cada vez mais duras. Depois de uma série de acidentes de trabalho, ocasionados pela negligência dos donos da mina, os mineiros decidem se sindicalizar para pedir melhores condições de trabalho. A reação da mineradora é feroz e, com o apoio da força pública, qualquer tentativa de associação é destruída e sufocada. As mulheres da cidade entendem rapidamente que devem se juntar à luta dos maridos, porque também é uma luta delas. Surpreendentemente, em um primeiro momento elas encontram mais resistência por parte de seus próprios maridos, que veem nesse movimento de mulheres uma subversão de seus próprios papéis.

O Sal da Terra mostra as tensões na articulação de gênero, raça e classe na luta política, e torna evidente que é o próprio sistema de exploração que as coloca em contradição para anulá-las e tirar proveito da impotência resultante. Quando os protagonistas entendem que essa tensão só prejudica a eles mesmos, surge, na solidariedade, um verdadeiro contrapoder.

Este é um caso atípico da cinematografia americana. Não só por causa da história, mas por algo muito mais importante: a forma em que foi produzido. Trata-se de um filme realizado totalmente fora do sistema hollywoodiano, gestionado por trabalhadores e realizadores perseguidos pelo macarthismo, que aborda assuntos que o cinema americano só se permitiria abordar décadas mais tarde. Este filme deixa claro uma coisa que grande parte do cinema convencional atual não conseguiu entender: no cinema, a política não pode reduzir a inclusão a uma questão de representação, porque assim se corre o risco, como de fato acontece nas grandes produções, de transformar a inclusão em cosmética. A verdadeira política, a que cria um cinema realmente diverso, é determinada pela forma em que os filmes são feitos. Não é por acaso que O Sal da Terra esteja décadas à frente da intersecção de raça, classe e gênero. Porque quando os filmes são financiados com critérios que não a simples exploração econômica e o interesse comercial, a diversidade aparece naturalmente.