Por que a escolha?

Matilde Landeta lutou para conseguir um lugar na indústria cinematográfica e se destacou na época de ouro do cinema mexicano como a primeira mulher cineasta da região. Ao levar à tela temas complexos representados por mulheres fortes e independentes, dotou o cenário cinematográfico de uma perspectiva mais ampla e inclusiva e abriu caminho para que as gerações futuras tivessem um lugar e uma referência.

Combinando elementos do neorrealismo e do melodrama, em Mulher da Rua Landeta elabora sua própria perspectiva sobre o trabalho sexual. O filme retrata duas irmãs separadas por um conflito amoroso. María, uma trabalhadora do sexo que vive com Rodolfo, um golpista que a explora e maltrata, e Elena, belíssima, que decide se casar com um banqueiro milionário, muito mais velho do que ela. Depois de anos separadas, o destino as reúne novamente quando se apaixonam por um homem cujo único objetivo é roubar o dinheiro que elas conseguiram ganhar. Cada uma habitando uma prisão diferente, a preocupação das duas é a sobrevivência, e elas usam o corpo e a beleza para garanti-la.

À época, o trabalho sexual era apresentado geralmente com um tom moralista e preconceituoso. Landeta considera o cinema uma arte com função educativa e o destino de seus personagens é marcado pela tragédia. Apesar de desaprovar o trabalho sexual, em Mulher da Rua Landeta apresenta uma crítica profunda à sociedade patriarcal. Ela ilustra claramente a dinâmica de poder entre homens e mulheres, a objetificação do corpo e da beleza das mulheres, os conflitos de classe, a rivalidade entre as mulheres pelo amor de um homem, e a tensão entre a autonomia e a dependência econômica.

A linha que separa as mulheres que buscam trabalho na rua e as que decidem se casar para garantir uma segurança material é tênue. Landeta procura fugir do discurso doutrinador e da submissão e da humildade que caracterizavam o modelo de feminilidade da época e constrói uma narrativa pautada por personagens complexas e cheias de nuances.