Visión nocturna, 2019
Carolina Moscoso
Chile

Por que a escolha?
Carolina Moscoso, diretora e protagonista de Visão noturna, foi estuprada em uma noite de festa. Ela precisou de muita coragem para se recuperar e denunciar Gary, seu violador. Apesar de saber que seria difícil, não esperava ser tratada com tanta violência e negligência pelo sistema judiciário e pelos serviços de saúde de seu país. Ela foi constantemente revitimizada e questionada, e o inquérito acabou sendo arquivado.
Moscoso narra esses acontecimentos na contramão da forma em que o sistema judiciário compõe sua história. Não há entrevistas, nem vontade de apresentar "as provas”. Esta é uma investigação de outra índole, que recorre ao diário íntimo e ao depoimento em primeira pessoa para narrar o itinerário de uma mulher que procura recuperar sua voz. Esta é a história de uma luta contra um sistema violento que só pode ser contrabalançado articulando a experiência pessoal com a ação coletiva e política, como conclui a diretora mais tarde.
Visão noturna recorre habilmente a imagens pobres (no sentido político dado por Hito Steyerl). Imagens caseiras, de baixa resolução, amadoras, provenientes de arquivos íntimos, porque Moscoso entende que experiências traumáticas como essa exigem uma certa opacidade. À claridade demandada pelos regimes visuais dominantes opõe-se a obscuridade das imagens relegadas que contam a história do lugar das vítimas, e que não incluem a falsa e impossível transparência dos fatos que a narrativa patriarcal judicial impõe. Uma justiça verdadeira tem que ser capaz de enxergar na penumbra a que está sujeita a violência sexual. A empreitada de Carolina Moscoso é justamente essa: não lançar mais da mesma luz ofuscante, mas treinar a percepção para sermos capazes de enxergar na escuridão.
Ficha técnica