Wanda, 2000
Barbara Loden
Estados Unidos

Por que a escolha?
Wanda leva uma vida caótica, cheia de sofrimentos, mas a assume com um distanciamento estoico, a tal ponto que parece que nada a atinge. Ela não tem nem sequer um quarto próprio. Dorme em um sofá na casa da irmã, cujo marido a despreza. Wanda se separou do marido e renunciou a toda pretensão de brigar pela guarda dos filhos. Vaga pela cidade descabelada e em farrapos. Se prostitui com homens que dão pena e que parecem contratá-la mais por obrigação do que por desejo. Em sua deriva, ela se envolve com um ladrão de pouca monta que acaba implicando-a em seu plano de roubar um banco. Algo parecido a um relacionamento nasce entre os dois, mas isso não impede que Wanda continue a não ser levada a sério, presa em um sistema de violência sem fim.
O primeiro e único filme dirigido por Barbara Loden (1932-1980) é o mais parecido a uma representação contemporânea, em versão feminina, do mito de Sísifo, como o interpreta Albert Camus. A pedra que Wanda tem que arrastar é a do seu sofrimento, em um ciclo que não tem fim; tudo no mundo está preparado para contradizer sua liberdade. No entanto, ela o derrota com sua indiferença. Essa é a sua revolução, pois assim como Camus anuncia a respeito dos deuses, “não há destino que não seja derrotado pela indiferença”.
Uma das contribuições essenciais da teoria feminista tem sido a de revisar a história, para prestar atenção em obras e artistas que não foram valorizados em suas respectivas épocas. Wanda, de Barbara Loden, é um dos casos mais notáveis de uma obra cuja presença e relevância tem crescido ao longo dos anos. Não foi bem recebida quando estreada, nem mesmo pelas feministas. Sua personagem não era entendida como uma verdadeira heroína. O tempo vem ditando outra coisa. A negatividade radical deste filme fez dele uma peça que resiste às tendências, e sua visão acerca da liberdade absurda mantém incólume sua qualidade perturbadora.
Ficha técnica