Por que a escolha?

Fim de Semana se concentra no romance entre Russell e Glen. Utilizando poucos recursos e um cenário sóbrio, sem artifícios e com uma câmera portátil que incentiva a intimidade, Andrew Haigh elabora uma crítica ao machismo e à homofobia da sociedade inglesa ao mesmo tempo em que se aprofunda nas tensões da masculinidade.

Russell ainda não saiu completamente do armário. Alguns de seus amigos sabem, mas ele ainda vive sua homossexualidade com vergonha, se escondendo. Depois de uma festa na casa de um amigo, ele resolve passar em um bar gay para tentar a sorte e ver se consegue ir para casa com alguém. Entre mictórios e pistas de dança ele conhece Glen e os dois resolvem passar a noite juntos. A janela de tempo que eles têm para se conhecerem é pequena e estreita, Glen está prestes a partir para os Estados Unidos e a realidade dessa decisão pesa nesse vínculo incipiente. O tempo passa e o mundo parece ter deixado de existir. Só existe o desejo e a vontade de se conhecerem um pouco mais a cada segundo. A dificuldade de expressar e processar emoções que os caracteriza vai ao encontro do desejo predominante de intimidade e conexão. Russell e Glen materializam dois impulsos contraditórios. Um é combativo, quer lutar pela visibilidade do erotismo e da sexualidade homossexual. O outro quer fazer todo o possível para passar despercebido.

Apesar das diferenças, o encontro entre eles catalisa uma transformação que os convida a redefinir suas identidades. Fim de Semana combina os elementos de uma história específica para transformá-la em uma história universal que foge das restrições temporais. Haigh encontra uma maneira eficaz de quebrar o tabu da homossexualidade sem cair no clichê da tragédia. Discursiva e formalmente, ele traz à tona a rigidez e a repressão emocional da cultura inglesa, ao mesmo tempo em que ilustra a complexa inter-relação entre amor, sexualidade, humor e erotismo.