Por que a escolha?

O título de Condições nervosas, o primeiro romance da escritora e cineasta zimbabuana Tsitsi Dangarembga, faz alusão às ideias de Frantz Fanon sobre a fragilidade psicológica dos povos colonizados. Essa neurose reside na impossibilidade de se afirmar em ambos os lados da fronteira entre a tradição e a miragem do progresso imposta pelo colonialismo, além da autodenigração e do autodesprezo que advêm de um processo de assimilação. Assim, fica claro desde o início que a principal preocupação deste romance de formação (que, como todas as histórias do subgênero, narra a passagem da infância para a idade adulta) é a herança cultural conflituosa deixada pela pilhagem europeia na África e, principalmente, pelo Império Britânico na antiga Rodésia, atual Zimbábue.

Educada por missionários anglicanos e católicos em seu país, com estadias intermitentes na Inglaterra e na Alemanha, Dangarembga recorre à sua própria experiência para construir os personagens de duas adolescentes negras que resistem de forma diferente às pressões e violências de um ambiente tradicionalmente patriarcal, historicamente oprimido e paradoxalmente sem raízes devido à influência das elites brancas.

O romance é narrado por Tambudzai, uma jovem que cresce em um empobrecido assentamento shona e que busca se superar por meio da assimilação, convencida de que a educação formal lhe garantirá um futuro. Mas esse ideal é ofuscado pela ascendência da sua prima Nyasha, brilhante e rebelde, que questiona a instrução europeia e desafia a autoridade do pai com um comportamento perigosamente autodestrutivo. Contra o destino cinzento oferecido a elas pelas mães e tias – mulheres quebradas, com os nervos frágeis – as duas primas tentam assumir o controle de suas vidas. Mas elas percebem que a vitimização da qual estão fugindo não depende da pobreza, nem da tradição, nem da racialização, mas sim de uma violência antiga e universal que os homens carregam consigo para todo lugar.