Por que a escolha?

Quando nasce um escritor em uma família, a família acaba, diz Laura Ferrero, repetindo o que diz Czesław Miłosz. Mas ela não acredita nisso, ou acredita apenas em parte, porque para ela os escritores são só porta-vozes. Não são eles que inventam as histórias, são outros, que, incluindo ou excluindo fatos ou pessoas de histórias feitas de omissões, invenções ou, na melhor das hipóteses, de exageros, acabam transformando-as em histórias de família. Quem escreve, acredita Ferrero, só coleta e organiza uma narrativa montada e alterada pelas gerações anteriores.

Em Los Astronautas, Laura Ferrero (1984) coloca ênfase em sua própria família, ou na falta de uma. A partir de uma foto, a única em que seu grupo familiar está completo, ela tece uma história que vai e vem entre os fatos e seus significados. Atravessada pela dor primordial de não fazer parte plena de nada, ela recria, com apelos constantes às viagens dos astronautas do século 20, a ideia de distância e de alteridade radical, e entrega reflexões e questionamentos agudos sobre os verdadeiros fundamentos sobre os quais a nossa vida emocional é construída.

Se Laura Ferrero não era a pessoa que tinha que criar ou acabar com sua família escrevendo sobre ela, como estipulou Miłosz, o que ela fez, e conseguiu, foi recolher uma série de verdades simples sobre a sua e sobre todas as outras famílias. Verdades simples, que, por serem tão simples e particulares, têm plena contundência e universalidade.