
Carta a um menino que nunca nasceu, 1975
Oriana Fallaci
Itália
Por que a escolha?
Existe uma experiência particular do aborto na qual se condensam, talvez mais claramente do que em outras, os principais dilemas morais que as mulheres geralmente enfrentam quando confrontadas com a decisão de interromper uma gravidez: o caso em que a própria existência ou o bem-estar físico da mãe está em risco. O dilema entre "dar a vida ou negá-la" torna-se aqui uma espécie de luta pela sobrevivência, uma disputa entre a mãe e o filho na qual qualquer consideração sobre o status ontológico deste último — ou seja, sobre o que o faz ser levado em consideração como ser humano, mesmo durante a gravidez — parece insuficiente diante da perspectiva da morte da mãe. O imperativo de "proteger a vida" é dramaticamente distorcido, pois é absurdo atribuir maior valor à existência de um embrião ou feto do que à de quem o está gestando.
No entanto, em tal cenário, a sociedade parece oferecer às mulheres apenas a alternativa da violência obstétrica: tratamentos que, para favorecer a vida da criança, obrigam as mães a sofrerem dores impensáveis e longos períodos de incapacidades que, além do mais, são pagos com a interrupção forçada de suas atividades e as consequências previsíveis da discriminação sistemática no trabalho.
Todos esses conflitos entram em cena em Carta a um menino que nunca nasceu, romance da escritora e jornalista de guerra italiana Oriana Fallaci (1929-2006), baseado em sua própria experiência. Nessa história, uma mulher mantém um diálogo unilateral com o feto que está gestando e, por se tratar de uma gravidez de alto risco, enfrenta o dilema de interromper sua carreira e abrir mão de seus objetivos pessoais, ou enfrentar a perspectiva de um aborto espontâneo com o castigo social e o sentimento de culpa que isso acarreta. Aqui, a vida que se escolhe privilegiar é a de alguém que assume a responsabilidade por sua liberdade, lutando com uma honestidade de cortar o coração diante da sociedade e diante de si mesma.
Ficha técnica