Por que a escolha?

Ángel de la menstruación, uma das pinturas juvenis de Cecilia Vicuña (1948), estende o fio vermelho, o sangue que é "a continuidade da vida humana" e "a conexão com o cosmos" e com esse fio conecta anos de uma obra rica em línguas ancestrais.

A imagem é a representação de um anjo feminino nu sentado sobre uma cobra amarela. Seus olhos pequenos olham para a frente, sua perna direita entreaberta expõe o sangue que brota de sua vagina e seu braço contorcido brinca com um fio vermelho. Esse fio condutor, diz ela, é "a força libertadora da visão da menstruação como algo negativo" pela cultura patriarcal, dominante e restritiva, que ensina a mulher a odiar seu útero e seu sangue, ou seja, a odiar-se a si mesma.

Esta poetisa e artista multifacetada, exilada durante a ditadura de Pinochet e considerada uma precursora da arte conceitual chilena, trabalha desde a década de 1960, mas foi só uma década atrás que ela alcançou o pleno reconhecimento. Ela atribui isso à sua condição de mulher, ao seu sangue indígena e à predominância do universo masculino.

Vicuña busca respostas na filosofia de seus ancestrais, que ela evoca através de criações inspiradas no quipu (nó em quíchua), uma espécie de escrita das civilizações andinas baseada em cordas de lã e nós de algodão que registram informações. O sangue reaparece na instalação Quipu menstrual apresentada na Documenta 14, em 2017. Na perspectiva da artista, o quipu representa a menstruação e ela o concebe como o "cordão umbilical cósmico" com o qual quer representar a ameaça de fim de nossa espécie devido ao impulso destrutivo da cultura humana. Não há nada como a menstruação, diz ela, "nada como o material cósmico que nos conecta com essa infinita continuidade da vida".