Por que a escolha?

“O humor consiste em negociar as contradições apresentadas pelas convenções”, diz Sarah Lucas, que usa a sátira e o humor para provocar e perturbar as normas convencionais de gênero, e questionar a misoginia e o sexismo predominantes na estrutura social e nos meios de comunicação social.

Sarah Lucas (1962) faz parte da geração de jovens artistas britânicos (YBA /Young British Artists) que surgiu com muita força na década de 1990. Seu trabalho multimídia, que consiste em instalações, fotografias e esculturas criadas a partir de objetos encontrados e em elementos do cotidiano como roupas, móveis, cigarros e alimentos desafiam a visão da sociedade sobre sexo, identidade e gênero. Este último será subvertido pela artista com a masculinização de sua própria imagem, desfazendo limites e invertendo papéis e estereótipos.

É o que a artista mostra em sua série de autorretratos fotográficos produzidos entre 1990 e 1998, entre os quais se encontram Self Portrait With Fried Eggs, Eating a Banana e Fighting Fire With Fire. Com pose e atitude masculinas, ela muda o tema da feminilidade como mecanismo de confronto das construções de gênero. A imagem dos corpos feminino e masculino nus, claramente delimitados pelos seus órgãos sexuais, aparece em Au Naturel, termo que na história da arte se refere ao nu na pintura. Aqui, sobre um colchão velho e amarelado, dois melões e um balde representam os órgãos da mulher, e duas laranjas e um pepino representam os do homem em uma alegoria direta da sexualidade e da genitalidade sem contenção social ou moralismo.

A objetificação do corpo da mulher, que para Sarah Lucas vive no imaginário masculino, está representada em Black and White Bunny # 1, que faz parte de uma série de oito esculturas. Meias recheadas com as quais ela molda a silhueta de uma figura feminina sem cabeça derreada em uma cadeira, com as pernas abertas, é a imagem surrealista que a artista utiliza para visualizar sarcasticamente essa objetificação.