
Foto: Tarik Samarah
Bosnian Girl, 2003
Šejla Kamerić
Bósnia e Herzegovina
Por que a escolha?
“Ser dos Bálcãs, ser da Bósnia e ser mulher tem muitas desvantagens em um mundo governado por homens ocidentais brancos”, diz Šejla Kamerić. Com sua arte, afirma, ela procura enfrentar as posições radicais usadas como instrumento de preconceito, ódio e misoginia para manter muitos grupos humanos em condição de desigualdade.
Šejla Kamerić (1976), nascida em Sarajevo, é uma artista plástica cuja produção inclui cinema, instalação, desenho e fotografia. A memória da guerra, as estruturas patriarcais e seus efeitos sobre as mulheres marcam em grande parte o seu trabalho. Bosnian Girl, o autorretrato icônico que a tornou mundialmente conhecida, capta esses temas, nos quais ela expõe as formas em que o corpo feminino tem sido usado e explorado como "território a dominar" e desafia os estereótipos que recaem sobre ela. A imponente fotografia de Šejla Kamerić, na qual ela olha de frente e firmemente para o espectador, tem um texto sobreposto: “Sem dentes…? Um bigode…? Tem cheiro de merda…? Moça bósnia!”, frases grafitadas por um soldado holandês da ONU em um quartel militar em Srebrenica (Bósnia e Herzegovina) entre 1994 e 1995. Segundo Kamerić, independentemente do papel de vítima que lhe foi imposto pela guerra e que ela assumiu simbolicamente nessa obra, o que interessa a ela é transmitir a ideia de que a história do preconceito e da intolerância transcende o contexto de guerra e tem um caráter universal.
A desigualdade e a luta que as mulheres tiveram que travar, e que ela retrata em Sorrow, obra de Van Gogh que ela reproduz em um autorretrato do mesmo nome, são anteriores à guerra e continuam atuais. Mas ao contrário de seu gesto cabisbaixo em Sorrow, a postura e o empoderamento refletidos no olhar de Šejla Kamerić em Bosnian Girl são desafiantes. Um desafio e um ato de resistência contra a discriminação perene exercida sobre as mulheres pelo sistema patriarcal. Para Kamerić, esse é o significado da arte.
Ficha técnica

Sorrow, 2005

Unknown, 2019
