Por que a escolha?

Brandon tem origem em um acontecimento que impactou fortemente a sociedade americana e abriu um precedente: o estupro e assassinato de Brandon Teena, um jovem transgênero, em 1993. Shu Lea Cheang (1954) criou então um trabalho colaborativo em rede; uma espécie de espaço virtual no qual gráficos, salas de chat, pop-ups, textos e imagens se sobrepõem com o objetivo de ajudar os usuários a entender o crime de ódio contra Teena e explorar questões de identidade de gênero, teoria queer e pensamento feminista.

Durante um ano, artistas, programadores e escritores participaram de Brandon usando material diversificado, criando uma paisagem visual rizomática e sem precedentes em torno da morte de Teena. O objetivo não era apenas aumentar a conscientização sobre a discriminação, mas também deixar os usuários desconfortáveis, questionando os seus privilégios e a microviolência que tem impacto direto no cotidiano de diversas identidades.

Brandon representa uma ruptura na história da arte contemporânea em vários sentidos. Foi uma das primeiras encomendas de uma obra digital, feita online e coletivamente. Shu Lea Cheang conseguiu enxergar o potencial da internet, das redes e do trabalho colaborativo para questionar noções centrais da arte tradicional, como a autoria individual, a ideia de uma obra de arte única e o preconceito sobre a sua impossível mercantilização.