
Foto: Haupt&Binder
Homebound, 2000
Mona Hatoum
Líbano
Por que a escolha?
Como uma versão visual da ideia de família de Nancy Fraser –um lugar de cálculo egocêntrico, trocas exploradoras, coerção e violência– o grupo de obras de Mona Hatoum (1952) centradas no lar é a representação e a desmistificação mais despiedadas dessa ideia. A conturbada história de seu país natal, o Líbano, e a violência endêmica de seu lugar de origem, a Palestina, definem sua prática artística. E para alguém que, sendo mulher, que migrou e cujo lugar de nascimento está definido pela guerra, a ideia de lar só pode ser desmascarada, ressignificada. Longe de ser o refúgio idílico do amor e da contenção, o lar, na obra de Hatoum, é não só um espaço de opressão para as mulheres, mas um lugar de ameaça generalizada, muitas vezes até abertamente um não-lugar.
Em Homebound e em Electrified, uma série de utensílios domésticos harmoniosamente dispostos e esteticamente atraentes são ligados –ou cercados– por fios elétricos que definem a latência do dano, a iminência da explosão. Assim, Hatoum transforma o que é familiar em algo estranho, altera o olhar habitual, questiona o que está naturalizado. Em Homebound, uma mesa comprida cheia de utensílios comuns de cozinha revela o que esses objetos têm de estranho e de ameaça potencial. A mesma coisa acontece em Incommunicado, onde o colchão do berço é substituído por arames afiados como facas. Dessa forma, o olhar de Mona Hatoum nos relembra, se tínhamos esquecido, que a hostilidade, a diferenciação e a violência habitam os espaços que habitamos.
Ficha técnica

Home, 1999
