Por que a escolha?

Dada a impossibilidade de as mulheres do século 16 poderem escolher elas mesmas uma opção de vida, ir para o convento era a melhor coisa que podia acontecer a elas. Esse foi o caso de Plautilla Nelli que, graças ao fato de estar confinada no convento de Santa Catarina, em Florença, pôde se dedicar à criação artística e tornar-se não só a Irmã Plautilla, mas também ser a primeira florentina conhecida como pintora no Renascimento italiano e a primeira mulher a pintar a imagem icônica de A Última Ceia.

Pulisena Margherita Nelli (1524-1588) adotou o nome de Irmã Plautilla aos quatorze anos, quando seu pai decidiu mandá-la para o convento, pois entre este e o casamento, que era a alternativa, o dote do mosteiro era melhor para ela. Lá, no meio do silêncio e livre da vida doméstica que teria de levar no casamento, começou a pintar. Não se sabe exatamente como ela aprendeu, mas acredita-se que foi de forma autodidata, reproduzindo obras de grandes mestres. Por outro lado, Plautilla decidiu motivar e ensinar outras freiras do claustro a desenhar e criou uma comunidade de mulheres artistas que produziam e vendiam obras de temática religiosa, o que lhes permitia certa independência econômica.

Segundo a Advancing Women Artists, que foi essencial para a redescoberta de Nelli e para a supervisão da restauração dessa pintura, esse grupo de mulheres ajudou na criação de A Última Ceia, uma obra de grande formato que sem dúvida simboliza um enorme desafio para ela como mulher e como artista. Esta tela de sete metros de largura, guardada por cinco séculos, foi instalada no Museu Santa Maria Novella, em Florença, em 2019. A frase "Orate pro pictora" (reze pelo pintor) acompanha a assinatura da irmã Plautilla Nelli nessa obra monumental, tão grande quanto a liberdade que essa mulher conquistou dentro do mosteiro e que teria sido truncada fora, sob o domínio masculino do século 16.