Por que a escolha?

Por meio da performance e da fotografia, He Chengyao reflete sobre a memória, o vínculo mãe-filha, a doença mental e a relação com o corpo nu na cultura chinesa.

Por meio da performance e da fotografia, He Chengyao (1964) reflete sobre a memória, o vínculo mãe-filha, a doença mental e a relação com o corpo nu na cultura chinesa. Chengyao nasceu de um relacionamento fora do casamento, algo considerado imoral. Sua mãe decidiu tê-la e criá-la, mas com o passar dos anos sua saúde mental foi enfraquecendo devido à pressão derivada dos preconceitos por ter tido uma filha ilegítima. Em Mama and me, He Chengyao realiza uma série de autorretratos com a mãe nos quais percebemos a duração: o tempo das ações que se deslizam e transcorrem lentamente enquanto observamos a imagem. No início, a mãe está sentada de frente com uma maçã nas mãos; então o artista fica atrás dela e tira a blusa da mãe; depois, há uma troca de olhares, um toque de mãos. Uma composição que exala sutileza, tranquilidade e afeto.

Nesta, que é, nas palavras da própria artista, a primeira foto das duas, mãe e filha, juntas ocorre um duplo movimento: por um lado, a artista reconhece sua própria história familiar, uma história ligada à loucura, aos quadros psiquiátricos que a mãe tinha mantido escondidos, e ela se conecta profundamente com a mãe e à trajetória de vida dela. Por outro lado, a artista exalta a coragem da mãe, a valentia de sua determinação em criá-la e, enaltecendo-a, também expõe a fragilidade da mãe e a necessidade que ela tem de ser cuidada.

O uso de seu corpo nu é um eixo central em todas as obras de He Chengyao. Suas reflexões estéticas voltadas à exibição de sua nudez lhe renderam críticas significativas, que ela tem usado para abordar o tabu da nudez na cultura chinesa e para gerar um pensamento crítico sobre o controle e inspeção dos corpos femininos e, nesse processo, questionar os papéis de gênero.