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  • Perra, 2005

    Regina José Galindo

    Guatemala

    Por que a escolha?

    "É preciso dizer / expressar / gritar / cantar / repetidamente / como um mantra / um rosário / uma ladainha / é preciso soltar a verdade / é preciso soltar o grito", diz a poesia de Regina José Galindo (1974) (em tradução livre). Sua obra é sobre isso: expressar, como em um mantra, repetidamente, o horror da violência. Galindo usa a performance como principal meio de expressão e faz de seu próprio corpo o lugar onde os atos de violência, de injustiça, e os estigmas e os tabus são re(apresentados).

    Assim, ela envolve o corpo em plástico e se faz jogar em um lixão para se referir ao lugar onde vão parar tantos corpos de mulheres assassinadas. Durante a gravidez, ela é amarrada a uma cama com cordões umbilicais de verdade para recordar as mulheres indígenas que, grávidas, eram amarradas para serem estupradas na época dos conflitos armados. Ela deixa que uma indígena cuspa nela e assim se coloca no lugar radical do outro. Ela caminha deixando rastros de sangue da Corte Suprema até o palácio presidencial, quando os juízes decidem deixar um genocida em liberdade.

    A violência contra a mulher ocupa um lugar central em sua obra. Na Guatemala, as mulheres são expostas diariamente ao medo de serem estupradas e humilhadas, diz Galindo. É esse medo que se sente em Perra (Cadela), uma performance em que a artista, vestida de preto, sentada em uma cadeira de metal, começa a escrever lentamente na perna direita, com um canivete, letra a letra, a palavra “perra”.

    A Guatemala é um país marcado por 36 anos de uma guerra civil que teve um impacto diferencial sobre as mulheres. A degradação do conflito as colocou em um lugar central e multiplicou as formas de violência e tortura contra elas. As sequelas perduram até hoje. Perra fala sobre uma série de assassinatos ocorridos em 2005, quando os corpos das mulheres assassinadas apareceram com mensagens como “malditas perras”, “muerte a todas las perras” o “a la basura las perras” marcadas na pele. Galindo escreve “perra” na perna para emular e dizer o que os assassinos de um grupo de mulheres na Guatemala fizeram em 2005. Mas em todas as sociedades patriarcais as mulheres são chamadas de cadela. E o significado e as implicações desse fato são o tema do grito prolongado que é sua obra.

    Ficha técnica

    Estoy viva, 2014

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