Por que a escolha?

Poucas artistas são tão paradigmáticas de uma época como Niki de Saint Phalle (1930-2022) nas décadas de 1960 e 1970. Suas nanas (moças, em francês) irromperam no espaço público problematizando os papéis de gênero, a sexualidade e a imposição de padrões de beleza à subjetividade feminina.

Voluptuosas, com cores estridentes e em poses variadas e sugestivas, as nanas se tornaram as obras mais relevantes de sua produção.

Contudo, entre 1961 e 1963, Niki de Saint Phalle criou uma série de action painting chamada Tirs, na qual realiza doze ações performáticas em que atira em uma tela com figuras e objetos tridimensionais com um rifle de calibre 22. Animais, esculturas gregas, arquitetura simulada, rostos de presidentes, monstros, estatuetas. Entre essas figuras ela escondia sacos de tinta e aerossóis que explodiam com o impacto das balas gerando uma mistura de cores sem igual.

Atravessada pelas demandas feministas de seu tempo, Saint Phalle usou uma arma para atirar simbolicamente em todas as opressões que recaíam sobre as mulheres e sobre ela mesma: a cada tiro ela parecia querer erradicar sua infância traumática, os abusos de seu pai e a violência machista vigente e legitimada naquela época e agora.