Por que a escolha?

A Visitação, do artista italiano Jacopo Pontormo (1494-1557) é, entre muitas outras coisas, uma resposta ao famoso artista renascentista alemão Albrecht Dürer. É a transformação de uma composição em outra: de quatro bruxas em quatro figuras bíblicas. Na realidade, as figuras bíblicas de A Visitação são as duas mulheres de perfil – a Virgem Maria e sua prima Santa Isabel –, mas, ao mesmo tempo, as figuras “testemunha” que nos olham de frente são suas réplicas idênticas. Poderíamos pensar que se trata simplesmente de um “empréstimo formal” (por assim dizer) entre um artista e outro. Mas as coisas não são o que parecem à primeira vista. Pois toda transferência (translatio) implica uma tradução. Pontormo também traduz as figuras misteriosas ao fundo (de diabo para dois homens conversando) e adapta o espaço, mantendo as proporções das figuras de Dürer.

Dürer, por sua vez, havia tomado emprestada uma composição clássica – as três graças – por se tratar de uma fórmula (posteriormente adaptada por pintores renascentistas e vista aqui em uma pintura de Rafael) para mostrar todos os pontos de vista de um corpo simultaneamente. De maneira que essas operações foram uma série de movimentos – uma viagem de ida e volta – produzidos em primeira instância pela visita do artista alemão à Itália. Mais tarde, foram suas imagens gravadas que viajaram para a Itália e outros lugares do mundo, servindo de fonte para Pontormo, entre outros.

Em 1995, Bill Viola, videoartista americano, retomou a enigmática pintura de Pontormo, desta vez para “dar-lhe vida” e “movimento” em um vídeo que a reinterpretou e a transpôs para um ambiente contemporâneo. Ele deu à sua obra o título de “The Greeting” (A Saudação) e em uma entrevista disse que a situação da pintura de Pontormo o fazia pensar nas despedidas que acontecem diária e continuamente nos aeroportos.