
Votivhild (Würeengel), 1931
Meret Oppenheim
Suíça
Por que a escolha?
“A liberdade não é algo que nos dão, mas algo que conseguimos”, disse Meret Oppenheim, para quem as mulheres tiveram de invalidar com o seu próprio estilo de vida os tabus usados para mantê-las subjugadas durante milhares de anos. É a mesma liberdade que ela propõe em relação à sua arte, rejeitando ser enquadrada na “arte das mulheres” ou catalogada em um único estilo artístico. Oppenheim (1913-1985), considerada atualmente uma das figuras mais importantes da arte do século 20, utilizou diversas linguagens e meios, e fez parte do movimento surrealista.
Aos dezenove anos conheceu o icônico grupo de surrealistas do qual participavam Alberto Giacometti, Jean Arp, André Breton, Max Ernst e Man Ray, e aos vinte e três já havia exposto sua obra intitulada The Luncheon in Fur, objeto emblemático do surrealismo, ao lado de grandes figuras. Contudo, o mundo onírico e do inconsciente que permeia a sua obra não é produto do seu tempo nesse movimento, mas da influência do seu pai psicanalista que a apresentou às diversas teorias da psicanálise, dentro das quais ela foi particularmente adepta à de Carl Jung e de suas críticas a Freud e ao contexto patriarcal que Jung via em algumas das interpretações do médico austríaco.
Oppenheim lutou contra o patriarcado não apenas no ambiente machista do surrealismo, que ela deixaria em 1937, mas com sua obra. A crítica à fetichização sexual das mulheres está em Mein Kindermädchen, a representação do corpo feminino fora das construções masculinas, em Anatomie einer toten Frau e sua postura contra a maternidade como um destino irrefutável das mulheres, em Votivhild (Würeengel).
Votivhild (Würeengel) representa uma figura feminina com asas de anjo, maquiagem e unhas compridas como garras, segurando nos braços um recém-nascido degolado. Com esta obra, que Oppenheim pintou aos dezoito anos como um “talismã” que a ajudaria a não engravidar, como contou, ela projeta a sua descrença em relação aos estereótipos sociais ditados às mulheres e expressa a sua libertação da norma inquestionável da maternidade como principal destino feminino.
Ficha técnica

Mein Kindermädchen, 1936/1967
