
White House, 2005
Lida Abdul
Afeganistão
Por que a escolha?
Lida Abdul diz que o Afeganistão se tornou uma metáfora, não só da guerra, mas da luta que as mulheres têm de enfrentar diariamente. E ela, que como mulher e artista teve que enfrentar obstáculos e ameaças, tornou-se um símbolo de resistência.
A fotografia, o cinema, a videoarte, as instalações e a performance são os meios através dos quais ela reflete sobre a vida após a destruição deixada pela guerra. A desolação, o deslocamento, o nomadismo, o corpo, a arquitetura e a identidade são alguns dos temas que a artista torna visíveis em sua obra. Abdul desenvolve seu trabalho usando sua própria imagem ou com as ações de homens e meninos afegãos que encontra nas ruas, já que as mulheres, segundo a artista, não participam por medo de sofrer represálias futuras.
Assim, ela é protagonista do vídeo White House, obra que representou seu país pela primeira vez na Bienal de Veneza, em 2005. Para ela, essa é a imagem visual do trauma e da cura que permanece nos espaços da pós-devastação. No vídeo, Abdul aparece vestida com um xador preto, sem véu, caminhando sobre os escombros do antigo complexo presidencial, nos arredores de Cabul, pintando as ruínas de branco com um balde e uma brocha, em uma ação que parece querer curar as cicatrizes deixadas pela história. Mas a artista contrapõe essa história devastadora e trágica em In transit, onde representa a inocência das crianças brincando alegremente com os despojos da guerra. Trata-se de um vídeo em que cerca de sessenta crianças brincam com o esqueleto de um avião militar soviético abandonado, enchendo-o de algodão e amarrando-o com cordas para empiná-lo como uma pipa. “Um antídoto para a tragédia da condição deles”, diz Abdul, para quem o Afeganistão hoje seria ainda mais violento do que é se não tivesse crianças brincando. As ruínas de edificações e objetos, as pedras, os espaços desolados, o vazio, o silêncio e a ausência de mulheres afegãs nas suas obras reconstroem a memória para resistir à violência e à devastação e são a metáfora à qual a artista alude para se referir ao Afeganistão.
Ficha técnica

Brick sellers of Kabul, 2006
