Por que a escolha?

"Onde eu estou na história?" é a pergunta que Wangechi Mutu (1972) se faz e que define seu compromisso consigo mesma e com as mulheres que têm "um corpo, uma cor de pele e um sotaque" como os dela e que, como ela, não se reconhecem como narradas na história. Daí surge sua “obsessão pelo corpo da mulher negra” e essa é a origem de sua arte que, independentemente das categorias dos relatos clássicos ou populares, busca representar a experiência feminina a partir da intervenção da realidade do cotidiano contemporâneo, como é apresentada nas revistas ocidentais. Por isso ela usa estereótipos, estabelece novos paradigmas e diversifica a versão branca e masculina do mundo. Por meio da colagem, um de seus principais métodos de trabalho, recorta e cola imagens em um processo de desconstrução e construção das ideias de feminilidade negra e destruição de hierarquias arbitrárias nas quais ela não existe.

Mutu, uma artista visual nascida no Quênia e radicada em Nova York, lança mão de vários meios, como escultura, pintura, videoarte, instalação, cinema e performance como suporte para seus questionamentos sobre raça, colonialismo, guerra, violência contra mulheres e gênero. Suas composições em colagem são emblemáticas no quadro geral de sua arte, assim como sua obra intitulada Yo Mama, na qual homenageia Funmilayo Ransome-Kuti, ativista anticolonial e antipatriarcal considerada pioneira do feminismo na Nigéria. “A figura existe em um espaço exterior imaginário, segurando uma cobra mutilada, a criatura fálica e mitológica que instigou a queda de Eva…”, diz Mutu, referindo-se à imagem poderosa que criou em homenagem a essa mulher que considera uma lutadora visionária, corajosa, que mobiliza a afirmação dos direitos das mulheres e da identidade dessa nação do continente africano. O mesmo continente de onde vêm as mulheres negras que, nas criações de Wangechi Mutu, emergem de mundos que para ela parecem mitos e fantasias, em uma espécie de fusão entre realidade e ficção.